Especialistas alertam para o cuidado com o uso de substâncias devido às festividades e altas temperaturas
Com a chegada do Carnaval e o aumento das temperaturas provocado pelas mudanças climáticas, é preciso considerar os impactos do clima e do uso de substâncias como álcool e outras drogas durante este período de festas.
Pesquisas recentes, incluindo um estudo conduzido pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, destacaram a correlação entre o aumento das temperaturas e o do consumo de álcool e outras drogas durante o verão.
De acordo com a pesquisa, ao longo de uma década de análise, foi observado um aumento significativo no número de pessoas que procuraram o atendimento médico de emergência em hospitais durante períodos de calor extremo, devido a complicações de saúde relacionadas ao uso de drogas. Esse fenômeno alerta para a necessidade de medidas preventivas e educativas durante eventos como o Carnaval, quando o consumo dessas substâncias tende a ser mais frequente.
Dudu Ribeiro, diretor executivo e cofundador da Iniciativa Negra, destaca como a falta de informação agrava a saúde de muitas pessoas devido ao uso de substâncias e propõe ampliar o debate. “As pessoas têm pouco conhecimento sobre a interação de substâncias, o que se reflete em poucas ações de políticas públicas voltadas para a redução de danos e cuidados no uso de drogas em ambientes de festas”.
Redução de danos é uma estratégia de saúde pública que busca diminuir os impactos sobre possíveis consequências devido ao consumo de álcool e outras drogas, sem necessariamente interromper esse uso e buscando inclusão social e cidadania para a pessoa que faz o uso. Dudu avalia que esta agenda deve se expandir e considerar o cuidado não apenas individual, mas também coletivo, especialmente diante das mudanças climáticas. “Pensar o cuidado das pessoas e comunidades se faz também a partir do cuidado com o meio ambiente”, destaca.
O consumo de drogas no verão
Mariane Ventura, médica da família e especialista em cannabis medicinal, aponta que neste período de verão, há um estímulo cultural sobre o consumo do álcool somado às festividades e o período de carnaval. Ela destaca não só para o cuidado sobre o consumo de substâncias, mas principalmente para a preparação do corpo. “No verão é o momento que precisamos ter atenção a certos riscos. Quando as pessoas usam substâncias, por conta do momento de diversão, muitas vezes não percebem tanto os impactos da radiação na pele e desidratação, por exemplo, e como isso causa consequências na saúde”, destaca.
Mariane falou também que neste período as pessoas usam com mais frequência substâncias estimulantes. Um dos exemplos citados foi a cocaína, que associada à altas temperaturas, podem causar danos ao corpo. “As pessoas querem estar acordadas para curtir as festas e substâncias como a cocaína são muito utilizadas. Ela altera a regulação da temperatura do corpo, podendo aumentar, e também causar a desitradação”, alerta. A médica também chamou atenção para o cuidado com a mistura de drogas. “Se você mistura substâncias que mexem no mecanismo da sede, por exemplo, pode causar danos à saúde, sobretudo se estiver na rua, local que as pessoas não têm tanto acesso a água como se deveria”, disse.
Dudu Ribeiro destacou que o uso de substâncias durante esses períodos também tem impacto nos eventos de violência, e que políticas de redução de danos podem contribuir para diminuir esses índices.
“Existe uma incapacidade dos gestores públicos de oferecer uma política real de redução de danos para as pessoas que estão nas festas, já que o uso de algumas substâncias estão associadas a eventos de violência. Ter um ambiente de cuidado grande o suficiente para acolher as pessoas que fazem o uso certamente traria um impacto positivo nos números da violência”, disse Dudu Ribeiro.
Dicas de redução de danos
A médica Mariane enfatizou que o cuidado com o corpo para essas festas e consequentemente o uso das substâncias inicia antes mesmo de estar nas ruas. “O primeiro passo é o pré. É importante as pessoas manterem hábitos saudáveis como dormir bem, fazer atividade física, sempre se alimentar e beber água antes de sair. Se possível levar um lanchinho para evitar ingerir alimentos contaminados. Somado a isso, usar proteção solar.”, destaca.
Ela também orientou para o cuidado no uso de substâncias. “Evite compartilhamentos e adquira produtos de fontes confiáveis”, diz. E sobre as relações sexuais: “Levar uma camisinha na bolsa e em caso de relação sem o preservativo, a pessoa pode procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e solicitar o uso do PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição, que é oferecido pelo SUS”. O PrEP é um medicamento usado para prevenção do HIV, podendo ser usado em pessoas cisgênero, trans e não binárias.
Em parceria com a organização Centro de Convivência É de Lei, lançamos no Carnaval de 2023, a campanha “Brisas de Carnaval”, onde produzimos conteúdos sobre o uso de álcool e outras drogas com orientações sobre redução e cuidados com misturas. Confira as dicas na lista abaixo, pratique e compartilhe com amigas, amigos e amigues. Bom carnaval!