Iniciativa Negra
Foto: Luiz Fernando Petty

Edição especial do Boteco Brasileiro de Política de Drogas traz debate sobre reparação em parceria com a Marcha da Maconha SP

16/06/23
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Marcando a programação do Quintas pela Democracia,  o encontro recebeu o lançamento da pesquisa ‘Iniciativa Negra por direitos, reparação e justiça’ e integrantes da Marcha da Maconha de São Paulo, que em sua 15ª edição trouxe como tema a reparação. 

O “esquenta” para 15ª edição da Marcha da Maconha de São Paulo aconteceu no Boteco da Dona Tati e integrou a programação do Boteco Brasileiro de Política de Drogas no dia 15 de junho. Com o tema “Justiça, direitos e reparação na política de drogas” a mesa contemplou, além do lançamento da pesquisa Iniciativa Negra por direitos, reparação e justiça, o debate trazido pelo tema deste ano na marcha “Antiproibicionsimo por uma questão de classe, reparação por necessidade”.

Para a roda de conversa tivemos a participação da cofundadora da Iniciativa Negra Nathalia Oliveira; a organizadora das Marchas Periféricas, integrante do bloco feminista da Marcha da Maconha de São Paulo e apresentadora do podcast Filosofia de Biqueira Diva Sativa;  a comunicadora da pauta antiproibicionista pela PBPD e pela INNPD, colaboradora do Cannabis Monitor Brasil e apresentadora dos programas ‘Sociedade’ e ‘Debate’ do podcast Maconhômetro Kyalene Mesquita; o coordenador científico da Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas Renato Filev; e o covereador pela Mandata Quilombo Periférico, educador popular de Economia Solidária e articulador na Agência Solano Trindade Alex Barcelos. 

Foto: Luiz Fernando Petty

Por direitos, reparação e justiça

A pesquisa “Iniciativa Negra por direitos, reparação e justiça” é a primeira publicação da Iniciativa Negra com um panorama nacional sobre política de drogas, além de lançar um olhar sobre o tema da reparação às vítimas da guerra às drogas. Nathália Oliveira ao apresentar estudo reforçou, “O Brasil não pode seguir investindo numa guerra, que é uma guerra visivelmente racista”. 

Ao promover a escuta de pessoas diretamente afetadas pelos impactos da guerra às drogas, a pesquisa busca construir caminhos para se pensar reparação a partir da realidade de cada território. “Não é uma pesquisa que vem para colocar as respostas e os resultados, seria muito autoritário. A Iniciativa não faz manual para a regulamentação, nós jogamos o problema na roda e a partir dela a gente vai construindo soluções”, pontua Nathalia. 

Descriminalização e os caminhos em debate

O debate seguiu dialogando com temas atuais como a descriminalização que está em pauta no Supremo Tribunal Federal. Sobre a questão, Diva Sativa levantou uma provocação sobre o processo de legalização e regulamentação. “Essa questão do acesso, que tá negada pra nós que somos pessoas periféricas, e que, na verdade, a Marcha da Maconha gostaria de provocar essa reflexão: quem são os donos das empresas de exportação de cannabis? Porque essas pessoas, com certeza, não são pessoas negras, não são pessoas periféricas. Qual o interesse que elas vão ter de uma política pautada em direitos, reparação e justiça racial? Nenhum. Se a gente não fizer a nossa política antiproibicionista e reparativa, ninguém vai puxar esse debate”, comentou Sativa que também comentou sobre a produção e divulgação de informações científicas e a violência gerada pela guerra às drogas.

Apontando para os possíveis modelos de legalização e regulamentação, Alex Barcelos reforçou a importância de se pensar na economia solidária e compartilhamento da cadeia produtiva como uma forma de reparação.  “Quando a gente fala de legalização ou descriminalização das drogas, a periferia já sai perdendo aí. Ela já perde ali pro mercado, ela já perde ali pra economia”, explicou Alex.

Para retomar a história da Marcha da Maconha que celebra 15 anos em São Paulo, Renato Filev falou sobre como a pluralidade de campos da sociedade foram se juntando ao ato. “Eu acho que o que faz essas pessoas terem esse sentido de identidade, é justamente não ter o poder centralizado em uma pessoa só. As pessoas se sentirem parte e pertencentes daquele coletivo, daquele espaço acolhedor, de ter a consciência e a plena certeza de corre pelo certo. E hoje nós estamos lutando, não é só porque a marcha é um ato de revolta, mas do quão ridículo é essa política”, afirmou Renato.

Ao final da mesa foi exibido o vídeo-manifesto celebrando os 15 anos de Marcha da Maconha nas ruas. Assista aqui.


As Quintas pela Democracia, que acontecem sempre na primeira e na terceira quintas-feiras de cada mês, também integram a agenda de reuniões realizadas no Boteco da Dona Tati, ponto de encontro oficial para as discussões propostas por Iniciativa Negra, Plataforma Brasileira de Política de Drogas, Centro de Convivência É de Lei, Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e Editora Dandara, acerca da atual política de drogas do país. A população é convidada a refletir sobre temas como guerra às drogas, população negra, ações de redução de danos e cuidado, violência e repressão, saúde e segurança.

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