Com apoio da deputada Leci Brandão, “Cartografia de Bambas ” visa documentar a rica cultura do samba no bairro paulistano.
A Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas, em colaboração com Alma Preta e Ponte Jornalismo, dá início ao projeto “Bambas da Barra Funda: Memória do da Presença Negra em São Paulo”. Por meio da emenda parlamentar da deputada estadual Leci Brandão, a ação busca investigar e registrar a história das transformações do território da Barra Funda, a partir da relação da cultura das escolas de samba com o bairro.
As reuniões de planejamento do projeto já começaram e ocorreram nos dias 9 e 30 de outubro, na sede da Iniciativa Negra, onde foram discutidas estratégias para a execução das atividades. A pesquisa nasce da preocupação da ONG com as transformações na cidade e no bairro, que historicamente afasta e expulsa comunidades negras, oprimindo as possibilidades de celebração da cultura negra. Assim, o objetivo é valorizar a memória dos personagens que construíram o bairro a partir da organização comunitária na escola de samba, suas trajetórias, os desafios para conquistar o reconhecimento e respeito na cidade, ao mesmo tempo em que a cidade e a sociedade como um todo passava por transformações. A proposta promete envolver a comunidade e resgatar narrativas que muitas vezes ficam à margem da história oficial.
O trabalho, a ser desenvolvido de outubro de 2024 a junho de 2025, resultará em materiais que visam preservar a memória e difundir os ensinamentos dessa manifestação cultural e sua relação com o território. A proposta central do projeto, conduzido por uma equipe multidisciplinar entre pesquisadores, comunicadores e produtores culturais, é a realização de entrevistas com figuras-chave da comunidade sambista da Barra Funda, para colher os relatos e experiências que ajudem a traçar um panorama das transformações da vida nos espaços negros da Barra Funda, da organização da Escola de Samba.

“Para nós da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, que estamos com a sede no bairro, entender a constituição do território é uma oportunidade de colaborar com a preservação da memória da comunidade, pois enquanto organização negra sabemos o quanto a pauta da memória é cara. Afinal, fomos historicamente usurpados desse direito. Além disso, sabemos que o território está mais uma vez em franco processo de modificação urbanistanistica, reconstituir essa memória é uma oportunidade de dialogar com os moradores sobre quais presenças, tradições e característica devem ser mantidas frente às mudanças prometidas pelo setor imobiliário para o bairro”, destaca Nathalia Oliveira, diretora da Ong.
O projeto busca não apenas documentar, mas celebrar a presença negra na cidade de São Paulo, promovendo um espaço de valorização e reconhecimento para os artistas e suas histórias. E, para garantir a riqueza do conteúdo, incluiu uma série de atividades que unem arte e pesquisa, que vão desde o levantamento bibliográfico até a coleta de memórias visuais, por meio de gravações, página dedicada e exposição fotográfica. O resultado de tudo isto está previsto para maio de 2025.
Segundo Paulo César Ramos, sociólogo e pesquisador do Afro CEBRAP, consultor responsável pela condução da pesquisa, o projeto é importante porque porque contribui para “ampliar a diversidade de fontes relacionadas à história da presença negra, criando fontes primárias sobre personagens que construíram a história do bairro e da cidade de São Paulo”. Para ele, a Iniciativa contribui para “dar visibilidade às pessoas, vidas e histórias que o desenvolvimento urbano desordenado e gentrificado atua para apagar”.