Iniciativa Negra

Pesquisa da Iniciativa Negra revela Realidades Invisíveis de Mulheres Negras no Pará

Pesquisa
Saúde Pública
Segurança Pública e Sistema de Justiça
29/10/24
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A Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas apresentou na tarde de 10 de outubro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus de Altamira, os resultados da pesquisa “Realidades Invisíveis: política de drogas, megaprojetos e a sobrevivência de mulheres negras cis, trans e travestis na Amazônia paraense”. O evento contou com a presença de pesquisadores, especialistas, representantes do governo e autoridades locais, além de lideranças de movimentos sociais.

A pesquisa, realizada em março de 2024, analisou as condições de vida dessas mulheres em contextos de vulnerabilidade, levantando dados sobre as violências sofridas e o acesso à rede de proteção social. Os dados revelaram que 80% das entrevistadas em Altamira moravam em reassentamentos urbanos coletivos, impostos pela instalação da Usina de Belo Monte, que contribuiu para o isolamento e a invisibilidade dessas populações.

Os resultados mostraram que 56,7% das mulheres entrevistadas faziam uso de drogas lícitas ou ilícitas, e muitas relataram experiências de violência. Em Altamira, 57% das participantes sofreram agressões verbais, enquanto em Belém, 20% enfrentaram agressões psicológicas. A pesquisa também destacou a discriminação de gênero e raça, com altas taxas de LGBTIfobia entre as entrevistadas.

Dandara Rudsan, coordenadora de projeto e pesquisa da Iniciativa Negra, afirmou: “Nosso estudo só comprova o que vemos todos os dias nesses territórios: mulheres cada vez mais expostas à violência sendo violentadas também pelo Estado, que é quem deveria cuidar delas, assegurando seus direitos e liberdades individuais”. Essa declaração ressaltou a fragilidade dos sistemas de saúde e proteção para essas mulheres.

O evento não apenas apresentou os dados, mas também buscou fomentar discussões sobre a necessidade de políticas públicas mais eficazes que atendam às especificidades desse grupo. A pesquisa representa um passo importante na visibilidade das lutas e desafios enfrentados por mulheres negras no Pará, promovendo um debate essencial sobre a necessidade de transformação social e políticas inclusivas.

Apoio SENAD/MJSP

Com apoio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a pesquisa elencou estas cidades por possuírem territórios utilizados como rotas do narcotráfico — uma consequência do modelo atual de segurança pública e do enfrentamento ao tráfico de drogas — além de sofrerem com mudanças sociais abruptas decorrentes de conflitos socioambientais, e terem forte protagonismo feminino na defesa da terra e do território, marcadores que embasam a investigação. Os resultados deste boletim buscam contribuir com a produção de dados qualificados sobre o território amazônico, e fortalecer políticas públicas e incidência política com foco no enfrentamento ao racismo, na igualdade de gênero e diversidade sexual, de mulheres cis, trans e travestis.

Foto: Rômulo Guedes

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