O braço armado do estado da Bahia (PM) segue levantado e pronto para atirar contra a população negra. Patrick Sapucaia, Alexandre Santos e Cleverson Guimarães tiveram suas vidas ceifadas por um modelo de (in)segurança pública que precisa ser repensado.
Os três jovens foram mortos na madrugada do dia 01/03, na comunidade pesqueira da Gamboa, em Salvador, e testemunhas apontam que não houve qualquer reação ou troca de tiros. A polícia não agiu em legítima defesa!
Os corpos das vítimas foram removidos, o local das execuções alterado, dificultando a apuração dos fatos. Nesta mesma operação foram feitos disparos aleatórios e bombas de gás foram jogadas na comunidade. Segundo testemunhas, a operação na Gamboa não se funda em qualquer mandado de busca e apreensão. Toda a ação foi feita de maneira arbitrária e violenta.
O ocorrido corrobora a seletividade racial nas operações da polícia que foi apontada por nossa pesquisa “Mesmo que me negue sou parte de você: Racialidade, territorialidade e (r)existência em Salvador”, lançada em novembro. Os bairros com maior número de ações violentas são majoritariamente negros, como São Cristóvão, Mata Escura, Sussuarana, Itapuã e Lobato. Já os bairros da cidade onde moram pessoas brancas, em sua maioria, não aparecem de forma significativa no monitoramento realizado.
A Iniciativa Negra Por uma Nova Política de Drogas repudia esta operação da PM e exige respostas! Nos unimos à mobilização liderada pela Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e assinamos a nota de repúdio que denúncia esta operação da PM. Nossa juventude não pode continuar tendo suas trajetórias interrompidas em nome de uma dita “Guerra às drogas” que mata pessoas pretas todos os dias.
Confira a nota na íntegra:
“A Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e entidades abaixo listadas denunciam a operação da polícia militar da Bahia na comunidade pesqueira da Gamboa de Baixo. Foram executados sumariamente pela polícia os jovens: Patrick Sapucaia, Alexandre Santos e Cleverson Guimarães.
A violência policial permanece como prática corriqueira e naturalizada contra moradores da Gamboa de Baixo. Os depoimentos de testemunhas apontam que as mortes dos jovens não foram decorrentes de resistência e que não houve qualquer reação ou troca de tiros. A polícia não agiu em legítima defesa! Afirmamos que toda pessoa tem direito à vida, ao devido processo legal e a um julgamento imparcial, sendo inadmissíveis execuções arbitrárias como aconteceu.
Os corpos das vítimas foram removidos e o local das execuções foi alterado, impossibilitando, por óbvio, a apuração dos fatos. Além das execuções e tiros aleatórios foram atiradas bombas de gás na Comunidade, de cima da avenida Contorno. A operação não se funda em qualquer mandado de busca e apreensão, como determina a lei!
A Polícia Militar da Bahia é considerada a mais letal do Nordeste e é líder em mortes por chacinas, segundo dados do relatório “A vida resiste: além dos dados da violência”, da Rede de Observatórios da Segurança. Esses números reforçam a política do estado de genocídio da população negra.
A Gamboa de Baixo é uma comunidade tradicional do início do século XX, autodeclarada comunidade pesqueira, classificada como Zona Especial de Interesse Social-ZEIS 5 na Lei Municipal no 9069/2016, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador. Os (as) moradores e moradoras da comunidade são sujeitos de direitos e merecem respeito!
Uma ação violenta e arbitrária como essa não pode ficar impune! Exigimos o afastamento e responsabilização dos envolvidos. Que o Estado investigue criteriosamente as execuções e todas as demais ilegalidades causadas por seus agentes de segurança contra a comunidade da Gamboa de Baixo nessa madrugada, respeitando o protagonismo das vítimas e seus familiares”.
Veja lista de entidades que assinaram a nota de repúdio:
Artífices da Ladeira da Conceição da Praia
Associação Amigos de Gegê dos Moradores da Gamboa de Baixo
Centro Cultural Que Ladeira é Essa?
Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho
Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB)
Coletivo Vila Coração de Maria
Grupo de Pesquisa Territorialidade, Direito e Insurgência (UEFS)
Grupo Margear- Faculdade de Arquitetura da UFBA
SAJU- Serviço de Apoio Jurídico da Faculdade de Direito da UFBA
MLB
Coletivo Resistência Preta
Coletivo Trama
Campanha Zeis Já
Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador
Residência AU+E (FA-UFBA)
Grupo de Pesquisa Ecologia Política, Desenvolvimento e Territorialidades (PPGTAS-UCSAL)
Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU)
Grupo de Pesquisa Territórios em Resistência (PPGTAS-UCSAL)
Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM)
Grupo de Pesquisa Lugar Comum (PPGAU-UFBA)
IDEAS – Assessoria Popular
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
GAMBÁ – Grupo Ambientalista da Bahia
Iniciativa Negra por uma Nova Política Sobre Drogas